A Felicidade e o Caminho Justo na Grécia Antiga: A Reflexão Aristotélica e a Ruína da Ilha dos Bem-Aventurados
- Carlos Imbrosio Filho
- 4 de fev.
- 4 min de leitura
Atualizado: 29 de mar.

Referência para Citação (APA)
Filho, C. I. (2025, 10 de Fevereiro). A Felicidade e o Caminho Justo na Grécia Antiga: A Reflexão Aristotélica e a Ruína da Ilha dos Bem-Aventurados. EBS I&D Centre. www.ebscentre.org
Resumo
A filosofia aristotélica propõe que a felicidade (eudaimonia) está intrinsecamente ligada à prática da virtude e ao equilíbrio na busca pelo bem comum. Este artigo explora a concepção de Aristóteles sobre a felicidade e a justiça, contrastando-a com a alegoria da Ilha dos Bem-Aventurados, uma civilização ideal que sucumbiu à própria obsessão materialista. A partir da premissa de que o excesso e o abandono das virtudes conduzem ao declínio, o estudo analisa como a busca pelo prazer imediato e pelo acúmulo de riquezas pode levar à autodestruição, um tema que ressoa nos desafios contemporâneos da sociedade global.
Palavras-chave: aristoteles, grecia antiga, filosofia, virtude, bem comum, materialismo, riqueza, justica, felicidade.
Introdução
Desde os primórdios da filosofia ocidental, a busca pela felicidade e pela vida justa tem sido uma questão central. Para Aristóteles, a felicidade (eudaimonia) não se resume a um estado momentâneo de satisfação, mas à plena realização do potencial humano, alcançada através da prática das virtudes e do equilíbrio. Em sua Ética a Nicômaco, Aristóteles argumenta que a felicidade é o bem supremo e que apenas por meio da justiça, da prudência e da moderação pode-se alcançá-la de maneira plena e duradoura.
No entanto, a história da Ilha dos Bem-Aventurados, uma civilização fictícia que prosperou na abundância e na riqueza, mas que pereceu devido ao seu materialismo descontrolado, oferece um interessante contraponto à visão aristotélica. Esta narrativa nos permite refletir sobre as consequências do abandono das virtudes em prol de desejos efêmeros, um problema que não apenas marcou civilizações antigas, mas também continua presente no mundo moderno.
O presente escrito busca estabelecer um diálogo entre a filosofia aristotélica e os dilemas enfrentados por sociedades excessivamente focadas no materialismo. Através da reflexão sobre a Ilha dos Bem-Aventurados, analisaremos, suscintamente, como a superação dos limites impostos pela moralidade e pela justiça pode levar ao colapso social e à infelicidade coletiva.
Aristóteles e a Felicidade como Fim Supremo
Preliminarmente, Aristóteles entendia que toda ação humana busca um fim, e esse fim último é a felicidade. Diferente do hedonismo epicurista, Aristóteles argumentou que a felicidade não reside no prazer ou na riqueza, mas no desenvolvimento das virtudes morais e intelectuais. A phronesis (sabedoria prática) e a dikaiosyne (justiça) são essenciais para que o indivíduo e a pólis alcancem a plenitude.
Portanto, a justiça, segundo Aristóteles, está relacionada à proporcionalidade e à equidade, sendo um princípio fundamental para evitar o excesso e a corrupção. No entanto, quando os cidadãos perdem a noção de moderação e passam a perseguir apenas a acumulação de bens e poder, a ordem social se desintegra, levando ao declínio da pólis, desafio este vivido no presente donde derivam-se governos extremistas e autoritários, apresentando, sobretudo, um retrocesso as evoluções alcançadas pelos movimentos democráticos até então presentes.
A Ilha dos Bem-Aventurados e o Declínio pelo Materialismo
Neste contexto, a aludida Ilha dos Bem-Aventurados era um território de riquezas imensuráveis, onde seus habitantes viviam em harmonia, guiados por princípios de justiça e sabedoria. No entanto, à medida que o progresso material se tornou o centro de suas preocupações, as virtudes que sustentavam sua sociedade foram gradualmente negligenciadas.
O desejo pelo supérfluo substituiu a busca pela verdade e pela contemplação filosófica. A corrupção, a desigualdade e a ganância se espalharam, minando a coesão social. Eventualmente, a sociedade colapsou sob o peso de sua própria avareza, em um processo de autodestruição que ecoa as advertências aristotélicas sobre a necessidade do equilíbrio entre bens materiais e valores éticos.
Reflexões Contemporâneas: O Materialismo e a Crise da Felicidade
O destino da Ilha dos Bem-Aventurados poderia ser interpretado como uma alegoria para a sociedade contemporânea. O avanço tecnológico e o crescimento econômico, quando dissociados de princípios éticos, levam à degradação ambiental, ao aumento das desigualdades e à corrosão das relações humanas, o que precisamente nos posiciona na atual conjuntura política e social.
A busca desenfreada pelo consumo e pelo lucro reflete uma inversão de prioridades, onde a acumulação de bens substitui a busca pelo bem-estar coletivo. A cultura do "ter" prevalece sobre o "ser", gerando um ciclo de insatisfação permanente e alienação social. As lições aristotélicas sobre a eudaimonia e a justiça mostram que a verdadeira felicidade não pode ser reduzida à posse de riquezas, mas deve ser construída sobre a prudência, a moderação e o compromisso com o bem comum.
Conclusão
Diante dessa reflexão, surge uma questão essencial: em que medida nossas escolhas diárias estão nos afastando da verdadeira felicidade aristotélica? O legado da Ilha dos Bem-Aventurados nos alerta sobre os perigos de uma existência centrada no materialismo e na satisfação imediata sob a nefasta ótica que nos levaria ao extermínio da própria raça humana.
Será que os nossos sonhos e prioridades refletem um caminho de realização autêntica, ou estamos apenas seguindo um ciclo de ambições vazias? Talvez seja hora de reavaliar nossas buscas e reconectar-se com o que verdadeiramente nos torna plenos: a virtude, a moderação e o compromisso com o bem comum. A felicidade está no ser, e não no ter.
Referências
ARISTÓTELES, 1973. Ética a Nicômaco. Tradução de Mário da Gama Kury. São Paulo: Ed. Abril.
ARISTÓTELES, 2006. Política. Tradução de Nestor Silveira Chaves. São Paulo: Martins Fontes.
GUTHRIE, W. K. C., 1998. História da Filosofia Grega. Volume VI. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
REALE, Giovanni, 1993. História da Filosofia Antiga. Volume II. São Paulo: Loyola.




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